Texto pivô: Após 75 anos da tragédia, o maior naufrágio da costa portuguesa é relembrado pelos matosinhenses, nas novas práticas piscatórias e também procurado pelos turistas.
Voz off 1: Não se afoga no mar, o que lá não entrar. E assim foi em 1947, numa noite de dezembro. A Tragédia do Mar, como hoje é conhecida, faz este ano 75 anos e é ainda recordada, por muitos, como uma noite fatídica para Matosinhos.
Voz off 2: Quatro embarcações rumavam de Matosinhos para a Figueira da Foz. Presas numa tempestade, acabaram por naufragar, levando consigo 152 marinheiros. Ainda nos dias de hoje, os matosinhenses recordam este acontecimento como uma tragédia para muitas famílias.
Entrevistado 1: O impacto deste acidente fez com que muitas famílias perdessem os seus maridos, os chefes de família, lá no fundo. Foi uma tragédia muito grande para a nossa cidade.
Entrevistado 2: A própria tragédia em si diz que afetou quase toda a população, em Matosinhos. Em todas as famílias houve alguém que ou tinha um parente, um amigo, um pai, um filho, um tio, que terá perecido nessa tragédia.
Voz off 3: Apesar de ter sido uma grande tragédia, daqui resgataram-se novas práticas e cuidados. Um novo Porto de Leixões foi criado, começaram a ser utilizados aparelhos próprios para navegação e as próprias embarcações e segurança a bordo foram também melhoradas.
Entrevistado 3: Acaba por levar a que se construir o Porto de Leixões que nós conhecemos hoje, criou-se um porto de pesca com as condições ideais, no que toca a que as embarcações pudessem estar seguras, tivessem condições para a venda do peixe e, sobretudo, para a entrada e saída do Porto, não é, para a ida para o mar.
Entrevistado 4: Isto também com o avanço da tecnologia e da ciência, permitiu com que o desastre fosse um caso isolado na história portuguesa.
Voz off 4: Como forma de homenagear todos aqueles que perderam a vida e as suas famílias, foi criada uma escultura inserida na Praia de Matosinhos. Nas 5 estátuas estão retratadas todas as viúvas e orfãos, que correram para a praia, em desespero, ao saber do naufrágio. Esculpidas por José João Brito, estas estátuas foram inspiradas na pintura do Mestre Augusto Gomes. Hoje em dia, para além de visitadas pelas famílias lesadas, são também um ponto turístico da cidade.
Entrevistado 5: São, digamos assim, um ponto diferente, porque não há assim tantas estátuas na praia. Elas são bastante impactantes, quer pela expressão delas, quer pela dimensão, e, por isso, temos sempre pessoas a tirar fotografias com as estátuas.
Voz off 5: Há quem vá e não regresse, mas as memórias prevalecem. Como forma de eternizar a saudade, em 2007, a Câmara Municipal de Matosinhos, publicou o livro “Naufrágio de 1947 - Toda a Saudade é um Cais de Pedra”. Aqui, podemos encontrar fotografias de todos os falecidos e relatos pormenorizados de quem vivenciou os dias de tragédia.
Reportagem de Catarina Lemos e Matilde Silva, Universidade Lusófona do Porto.