Texto-pivô: Conceição Monteiro revelou que a tragédia de Camarate colocou Portugal na iminência de uma guerra civil. A secretária de Francisco Sá Carneiro recordou a celebração comunista pela morte do ex-Primeiro Ministro e os gritos de guerra dos apoiantes da Aliança Democrática.
Voz Off 1: A década de oitenta ficou marcada no país pela morte de um Primeiro-Ministro e de um Ministro da Defesa, numa fase ainda fervilhante da jovem democracia portuguesa. A queda do avião em Camarate foi um duro golpe nos esforços de pacificação de um país ferido. Freitas do Amaral percebeu e tentou controlar o conflito.
Entrevistado 1: Ele falou aos portugueses com uma intervenção muito sóbria, mas de calma. Na qualidade de primeiro-ministro que era o que estava a ser, referiu que seria feito um inquérito, toda a verdade será descoberta, mas a tentar acalmar.
Voz Off 2: Mas controlar ânimos exaltados foi difícil.
Entrevistado 2: Começou-se a juntar gente, vamos aos comunas, vamos matá-los, achando que tinha sido contra Sá Carneiro. Na outra banda até deitaram foguetes, assaram-se carneiros e diziam “está o carneiro a arder”. Foi muito duro aquela noite aqui, podia ter havido quase uma guerra civil.
Voz Off 3: Portugal vivia um período de clarificação ideológica e o aumento da tensão entre o Partido Comunista e o Partido Socialista contribuiu para manifestações populares intensas, muito próximas de um conflito.
Entrevistado 3: Havia uma exceção que era o jornal República ligado ao Partido Socialista e nessa altura o Partido Comunista resolveu assaltar o jornal, que era de Raul Rêgo. Aí o Partido Comunista começou a abrir os olhos, alto lá que eles estão-nos a entrar em casa. Com Sá Carneiro à frente, todos os fins de semana fazíamos grandes manifestações populares em todos os pontos do país, exatamente pugnando por esses princípios contra a unicidade sindical e contra o Partido Comunista.
Voz Off 4: Amândio de Azevedo foi dirigente nacional do PSD durante a liderança de Sá Carneiro e viu de perto a forma como a ala esquerda do país olhava para o social-democrata.
Entrevistado 4: O Sá Carneiro era proscrito, era considerado o diabo em figura de gente.