Texto Pivô: Um comício marcado à última da hora, no Porto, colocou Sá Carneiro na rota da morte. A mesa reservada no Restaurante O Escondidinho, havia de ficar vazia e o cliente perdido, para sempre. Neste episódio, são expostas as motivações e persuasões que conduziram à marcação do comício extra.
Vivo 1: Olá, na semana passada estivemos a conversar sobre o acontecimento de camarate tal qual o mundo viu em todos os órgãos de comunicação social. Mas nós avisamos que havia respostas que despenharam.
Vivo 2: O avião caiu, certo! Mas Sá Carneiro e a sua comitiva só viajaram porque foi marcado um comício extra da campanha presidencial em que foi solicitada a presença do antigo PM.
Vivo 3: No dia 1 de Dezembro de 1980, três dias antes da tragédia de Camarate, Francisco Sá Carneiro é informado que a campanha presidencial de Soares Carneiro vai ter um comício-extra no Porto. Como a cidade invicta era a sua terra natal, não foi difícil convencer o primeiro-ministro a prescindir de um comício que estava marcado para o mesmo dia, em Setúbal.
Vivo 4: É Conceição Monteiro, secretária e confidente de Sá Carneiro, que começa a organizar a deslocação do social-democrata. Segundo uma auditoria da Inspeção Geral das Finanças, Adelino Amaro da Costa, em representação do CDS, admite também a vontade de marcar presença no evento.
Vivo 5: Neste restaurante, em frente ao coliseu do porto, Sá Carneiro era esperado para jantar antes de discursar. Tinha marcação para as 20h, mas nunca chegaria a aquecer a cadeira.
Vivo 6: Esta mesa, junto à lareira era o local favorito do antigo PM. Hoje o menu é um ensopado de respostas difíceis de decifrar.
Entrevistado 1: O Escondidinho está cheio de história, inclusive também ligado ao Dr. Francisco Sá Carneiro. É esta mesa que estava precisamente reservada para eles, e depois claro que houve o acidente e toda a gente recebeu uma notícia tão chocante.
Voz Off 1: Mais de 40 anos depois do caso Camarate, começa a ser difícil encontrar testemunhos como respostas inequívocas. Mas podemos encontrar na controversa obra do cronista Augusto Cid, um testemunho da jornalista Dinah Alhandro, próxima de Sá Carneiro, registado em 1984.
Voz Off 2: “Porque é que Francisco Pinto Balsemão, que sucedeu Sá Carneiro não só como primeiro-ministro, mas também como presidente do partido que ambos haviam fundado, se não empenhou, pessoalmente e a fundo, no acompanhamento das investigações? Quanto mais não fosse porque, como se sabe, Sá Carneiro pretendia tomar parte no comício que se realizava em Setúbal na noite fatídica e só perante os insistentes SOS do próprio Balsemão acedera ao Porto nessa noite. Sabem umas três ou quatro pessoas mais íntimas do profundo desagrado que certas acusações do seu ministro adjunto Balsemão estavam a causar em Sá Carneiro. Eu própria o ouvi declarar que era uma pena que Balsemão se lembrasse mais de que era proprietário do Expresso e menos de que era membro do VI Governo”.
Entrevistado 2: Quanto ao comício, o facto de ter sido marcado três dias antes, toda a gente acha muito estranho.
Vivo 7: Uma infeliz coincidência que não foi a única que deixou dúvidas nesta página negra na história política do nosso país. Uma troca inesperada do avião que iria levar consigo o então primeiro-ministro e o ministro de defesa foi determinante para o desfecho que conhecemos e ainda havia de encher os bolsos a um empresário de Braga. Vamos ficar a saber tudo na próxima quarta-feira, até lá!
[Guilherme Caroço e Tiago Oliveira]